quarta-feira, 6 de setembro de 2017

A Modalidade 1 toque da Regra Brasileira completa meio século de existência

Nos anos 60 do século passado, o futebol de botão praticado de forma organizada tinha duas principais vertentes: a região Nordeste e o estado do Rio Grande do Sul, cada qual praticando sua regra, embora ambas tivessem muitos aspectos em comum. No Rio Grande do Sul, o esporte era praticado em Porto Alegre. Num gesto pioneiro, o presidente da Federação Riograndense de Futebol de Mesa, Lenine Macedo de Souza, foi a Caxias do Sul e fez uma demonstração da regra gaúcha no Recreio Guarany, o que foi o fato que no futuro, deu origem à Liga Caxiense.
Nessa ocasião apenas o Recreio Guarany jogava campeonatos. As demais agremiações e entidades apenas guardaram as mesas e os times, esperando a oportunidade de colocar tudo em ação. O primeiro campeonato organizado, em que participavam adultos, foi realizado em em maio de 1963 no Sindicato dos Bancários de Caxias, cujo presidente, o gremista Dauro Brandão de Mello, aficionado pelo esporte. Participavam bancários do Banco da Província, Banrisul, Sul brasileiro, Nacional do Comércio e Banco do Brasil. Um mês antes de 1963 eu havia iniciado a minha carreira de bancário no Banco do Brasil.
Em junho de 1963, foi realizado o primeiro campeonato interno da AABB, com a participação de onze funcionários. Em agosto do mesmo ano, realizamos o primeiro campeonato caxiense de futebol de mesa, reunindo os bancários, no salão do Sindicato. No ano de 1964 novamente os campeonatos foram realizados, na mesma sequência. Porém, ao final de cada ano tomávamos conhecimento do campeonato estadual, e, não éramos convidados. Escrevi à Federação e fui informado que para disputar o campeonato estadual deveria haver na cidade uma entidade filiada a Federação que realizasse o campeonato oficial. Foi então que resolvemos fundar a Liga Caxiense de Futebol de Mesa, em julho de 1965. Em 13 de junho de 1965, recebemos as visitas do presidente da FRFM, Lenine Macedo de Souza, e dos botonistas Cláudio Saraiva e Renato Ramos, que nos orientaram sobre as providências necessárias. Ao final do ano, participávamos pela primeira vez de um estadual.
Em 1966, depois de uma reportagem na antiga Revista do Esporte, editada no Rio de Janeiro, encontrei uma reportagem com o título: “BAHIA DÁ LIÇÕES DE FUTEBOL DE BOTÕES”, escrita por Oldemar Dórea Seixas. Escrevi para o Oldemar, informando que existia no nosso estado uma Federação Riograndense de Futebol de Mesa e enviei para el um livro de regras e algumas fotografias. Ele respondeu enviando o livro de regras da Bahiana, alguns botões e um goleiro e bolinhas que eram olho de peixe, hoje não mais fabricadas, o que obrigou a criação da bolinha pelos sergipanos.
Posteriormente a Federação Riograndense elegeu Gilberto Ghizi como presidente quem aproximou-se da Liga Caxiense, notando desde cedo o nosso valor. Nesse ano promovemos o Torneio de 1º aniversário da Liga, e convidamos os botonistas de diversas cidades gaúchas. Convidamos também ao baiano Oldemar Seixas quem, para nossa surpresa, aceitou o convite e trouxe consigo, Ademar Dias de Carvalho. Pediram os baianos que conseguíssemos para eles uma tábua de 2,20 x 1,60, lixas e sarrafos para as laterais. Queriam demonstrar o futebol de mesa que eles praticavam. O torneio de aniversário foi realizado na regra Gaúcha e foi emocionante até o final, pois Ademar Carvalho, com seus botões padronizados e bem maiores dos que os nossos chegou à final, perdendo por um lance infeliz, quando ao atrasar a bola ao goleiro, com o peso do botão, jogou goleiro e bolinha para dentro do gol. Ficou com o vice-campeonato, sobrepujando ícones da regra gaúcha.
Após o encerramento e entrega dos troféus, os dois baianos fizeram uma demonstração do futebol praticado na boa terra. Não dá para descrever a admiração de que todos foram tomados. Ao ver dois times padronizados em campo (nós jogávamos com botões de diversas cores, bastava nos adaptarmos a eles, formando um time, sem ter um padrão definido), com jogadas executadas com precisão, todos manifestaram-se admirados. Isso chamou a atenção do Ghizi, e, em conversas trocávamos idéias sobre uma regra que unisse a nossa com a deles. Com a grande vantagem de todo nordeste do país estar jogando a regra baiana. Quem sabe, assim, poderíamos ter um campeonato brasileiro da modalidade. Essa demonstração foi foi fundamental para alimentar o sonho que eu sempre tive que era ver um campeonato brasileiro. Ao meu lado, Gilberto Ghizi, então presidente da Federação Riograndense, vibrava da mesma forma que eu. Conversamos sobre a possibilidade de juntar as duas regras e com isso unir os brasileiros em torno de uma mesa de botão. No restante do ano fomos alimentando a idéia e juntando partes, até que o Ghizi conseguiu um anteprojeto de uma regra que trazia muito da gaúcha e muito da baiana.
Na ocasião, o Gilberto me solicitou que patrocinássemos o campeonato estadual em Caxias do Sul, naquele ano de 1966. Aceitei, e desta maneira ficamos em contato semanal, discutindo nossos pontos de vista sobre a unificação das duas regras, uma vez que elas se assemelhavam na maior parte de seus conteúdos. O que era discrepância na gaúcha foi abolido e da mesma forma na baiana. Para ilustrar, na baiana tinha o carrinho, que era quando fechavam três botões e o adversário podia jogar o botão contra algum deles, desde que não o afastasse uma determinada medida, que não seria falta. Assim ia entrando na “cerquinha” adversária. Na gaúcha havia o escanteio, no qual colocava-se três botões enfileirados na área e chutava-se a bolinha para rebater em um deles e conseguir o gol. Tinha gente que jogava só cavando para ter direito ao escanteio. Tudo isso foi abolido neste ante projeto.
Por ocasião do campeonato estadual de 1966, reunidos todos os participantes, presidentes de entidades, o presidente da Federação apresentou o ante projeto que levaríamos à Bahia e foi aprovado por unanimidade.
Saímos dia 8 de janeiro do Rio Grande do Sul e ficamos até o dia 23 de janeiro na Bahia, discutindo na sede da Liga Bahiana de Futebol de Mesa, até chegarmos a denominador comum. Ficamos uma noite inteira debatendo sobre o tamanho da mesa, pois a baiana (atual) era o dobro da nossa (gaúcha). Propúnhamos uma intermediária, mas a argumentação dos baianos acabou nos vencendo, pois eles disseram que todo o nordeste usava mesa esse tipo de mesa. Como nós teríamos forçosamente de trocar o tamanho da nossa e tendo em vista que muitas associações em cidades nordestinas não teriam condições financeiras de trocar mesas, pediam que continuasse a ser obedecido o tamanho de 2,20 x 1,60. Finalmente concordamos.
Os envolvidos diretamente na criação da Regra Brasileira foram os seis citados Ademar Carvalho, Nelson Carvalho, Roberto Dartanhã e Oldemar Seixas pela Bahia e Gilberto Ghizi e Adauto Celso Sambaquy pelo Rio Grande do Sul.
Caxias do Sul aderiu imediatamente à nova regra, passando a modificar mesas e botões. Porto Alegre, entretanto, mostrou resistência. Havia o interesse comercial do Lenine, que ao saber que suas mesas não teriam mais saída, seus botões não seriam utilizados e a bolinha seria diferente, revoltou-se e destituiu o Ghizi da presidência da Federação e retomou-a. A seu favor estavam os grandes botonistas da época, os quais eram os “papões” de todos os títulos maiores. Houve o rompimento de relações da Federação com a Liga Caxiense. Éramos personas não gratas. Ficamos alijados de suas disputas, mas seguimos a nossa ideologia e implantamos o futebol de mesa brasileiro em diversas cidades. Rio Grande, na pessoa de Clair Marques já estava unida conosco e surgia outro nome fabuloso que, transferido para Canguçu, levou o futebol de mesa para a região: Vicente Sacco Netto.
A intenção da criação dessa regra jamais foi de destruir a Regra Gaúcha (nossa regra mãe), mas propiciar a possibilidade de novos horizontes, coisa que realmente aconteceu a partir dos anos setenta, quando começaram a ser realizados os campeonatos brasileiros da modalidade. Com a realização do primeiro Campeonato Brasileiro em 1970 e sua repercussão, a coisa ficou mais fácil e a partir daí o crescimento foi fantástico, culminando com a realização do primeiro campeonato brasileiro em 1970, na cidade de Salvador (BA).
Nessa época havia o campeonato por equipes e os anfitriões levavam a melhor sobre seus adversários. A equipe da Bahia foi a primeira campeã em 1970 e a equipe Pernambucana, em 1971, no torneio disputado em Recife. Dificuldades financeiras, coisa muito comum entre os praticantes da modalidade, dificultaram que atletas sem patrocínio algum, se dispusessem a participar do terceiro brasileiro, a ser realizado em 1972 na cidade de Caxias do Sul, pois muita gente não suportaria uma viagem longa até o Rio Grande do Sul, em pleno inverno, para jogar botão. A partir desse torneio só foram realizados campeonatos individuais.
A Regra Brasileira foi criada para botões lisos. Muitos que migraram para ela eram jogadores de regras que utilizavam botões cavados. Os dois primeiros campeonatos 1970 e 1971 (Recife) foram utilizados somente botões lisos. Entretanto, em 1972 (Caxias do Sul), um carioca, Antônio Carlos Martins entrou com um time cujos defensores eram cavados e os atacantes lisos. Com isso ele cobria os lançamentos com precisão. Chamou a atenção e a partir dessa apresentação, muitos começaram a usar botões cavados, chegando ao ponto de ter o time inteiro de botões cavados.

Em Viamão o futebol de mesa começou em 1982 com a criação da AVFB, Associação Viamonense de Futebol de Botão que praticava á regra leva/leva(mais conhecida como toque/toque) mais tarde começou a jogar a regra gaúcha por introdução do professor Cédio dos Santos, a regra brasileira só tivemos conhecimento em 1990, quando Fábio Di Leone que estava de férias no Rio de Janeiro e ficou sabendo que estava sendo realizado um Campeonato Brasileiro de Futebol de Mesa, Fábio foi até o local e ficou impressionado com o que tinha visto, as mesas, botões e toda organização. Nesta época o presidente da FGFM era César Keunecke de Oliveira, assim solicitou informações sobre a regra e como poderíamos filiar Viamão. Após o seu retorno foi feita uma reunião com todos que praticávam o futebol de mesa e foi decidido pelo presidente da associação, Adriano dos Santos Alves, que a AVFB passaria a praticar a regra brasileira, assim tivemos a divisão do grupo que jogava, o grupo do Professor Cédio dos Santos foi para o centro onde continuariam praticando a regra gaúcha e o grupo da AVFB que em 1991 começou a praticar a regra brasileira, mas tínhamos um grande problema que era as mesas, e foi solucionado por Fedeluccio Di Leone, ele foi o responsável pela compra das 2 mesas primeiras mesas oficiais da regra brasileira, Di Leone mandou vir de São Paulo as mesas e mais tarde com o apoio de Paulo José Dias foram adquiridas mais 2 mesas oficiais, outro botonista de Porto Alegre que ajudou muito na introdução da nova regra foi Dorival Santos, mais conhecido por Bombeiro, ele ajudou com integrações com a entidade que ele jogava.
Os botões lisos reinavam absolutos por muito tempo, mas com a implantação dos cavados ficou difícil para eles competir e houve uma série de campeonatos vencidos por jogadores que usavam os botões cavados. Até que em 1991 houve a separação definitiva, sendo realizados dois campeonatos brasileiros, um para cada categoria. Ou seja, na categoria liso joga-se apenas com botões de base lisa e na categoria cavado somente com botões com a base cavada. Atualmente a separação é total em função das mesas, que são específicas para cada categoria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário